No momento em que o Congresso Nacional aprovava o PL 3261, que facilita a privatização do saneamento, uma moção de repúdio contra o desmonte enfrentado pelo setor era aprovada em audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Salvador, na última quinta (6). A moção foi defendida pela vereadora Marta Rodrigues (PT), promotora do debate, que disparou críticas ao prefeito ACM Neto por estar “legislando” sobre saneamento por decreto, sem ouvir a sociedade.

Neto é defensor da privatização e se recusa a renovar o contrato do município com a Embasa. Já decidiu fazer uma licitação, em julho, para atualizar o plano de municipal de saneamento, e só aguarda o desfecho do Congresso Nacional sobre a nova legislação para o setor, conforme deixou antever o subsecretário de Cidades Sustentáveis, João Leal.

Ao anunciar a aprovação do PL 3261, o coordenador do Sindae, Danillo Assunção, afirmou que “esse é um dos momentos mais importantes na vida dos brasileiros, pois está acontecendo o desmonte total do estado, desde o saneamento até a previdência, passando pela educação. Nada está ficando de pé”. Segundo ele, a população mais pobre será a mais afetada em caso de privatização do saneamento.

O padre José Carlos, da Ação Social Arquidiocesana, disse que o estado brasileiro atual é facista e renega a vida para os pobres. Recomendou “luta diária para impedir a privatização da água, fonte de vida e não de lucro”. Na mesma linha, o babalorixá Átila Alves afirmou que “a água é axé, força vital, e os orixás vão nos guiar até a vitória”.

Andrea Neiva, do Movimento dos Atingidos por Barragens, disse que “lutar por saneamento é lutar por direito humano. E direito humano não se vende, se garante”. Diretor do Sindicato dos Engenheiros, Alam Hayama afirmou que a água está entre os recursos naturais do Brasil que despertam grande interesse das multinacionais Coca-Cola, Pepsi e Ambev. E citou que os governantes estão entregando tudo, como o pré-sal, maior reserva de petróleo descoberta nos últimos 30 anos. “Só nos resta a rua, vamos fazer a greve geral no dia 14”, conclamou.

A deputada Maria Del Carmem (PT) disse que “estamos vivendo de susto, a cada dia uma maldade” e alertou a plateia que, além de tudo o que já se sabe, o governo acabou de retirar da Constituição Federal a função social da propriedade. “Todas as conquistas estão sendo esfaceladas”.

Também participaram da audiência a engenheira Gabriela de Toledo, do Observatório do Saneamento, o ex-vereador e presidente do PT de Salvador, Gilmar Santiago, o dirigente do Gamba, Renato Cunha, e a dirigente do CREA, Cláudia Miranda, além de representantes de deputados e sindicatos.