Gota D'água

Insensível e imprudente, Embasa convoca grávidas e lactantes para trabalho presencial

14/08/2020

Insensível e imprudente, Embasa convoca grávidas e lactantes para trabalho presencial

As mulheres são parcela considerável da força de trabalho, com presença desde o serviço administrativo até na parte operacional, como estações de tratamento, mas não foram devidamente consideradas nem respeitadas no Protocolo 7, que serviu de base para a retomada das atividades na Embasa. A maior prova disso é que a empresa, de maneira insensível e cruel, forçou o retorno de lactantes e gestantes ao regime presencial, agravando os riscos de contágio pelo coronavírus e ampliando o grau de ansiedade e tormento que tem caracterizado o momento que o mundo está vivendo.

O retorno de quase todo o pessoal que estava em serviço remoto para o presencial, no último dia 10, ampliou o risco de contágio para toda a categoria e se deu de forma prematura, no momento em que a pandemia do Covid-19 está no ápice na Bahia, já tendo contaminado mais de 207 mil pessoas e provocado mais de 4.200 óbitos. Também é grande o número de infectados na Embasa, e temos o registro de mortes. Por causa dessa imprudência, o Sindicato apresentou denúncia ao Ministério Público do Trabalho. São constantes as denúncias no Observatório de Combate ao Covid-19 no Saneamento, criado pelo Sindae para acompanhar a evolução da pandemia.

As mulheres têm sido a parcela mais impactada nessa crise de saúde, conforme levantamento feito pelo ONU Mulheres, agência vinculada à Organização das Nações Unidas, e confirmada em pesquisas de diferentes instituições. Elas exercem múltiplas jornadas, acumuladas com as chamadas “tarefas do lar” e os cuidados com filhos. Além do maior risco de contágio, estas profissionais enfrentam maior chance de adoecimento psíquico por depressão, crise de ansiedade ou síndrome de burnout.

No caso de lactantes, gestantes e mulheres com filhos, o retorno ao regime presencial nesse momento aumenta o risco de contágio na mesma proporção que aumenta a ansiedade ante a possibilidade do adoecimento em todo o núcleo familiar. Além disso, é preciso levar em conta a interrupção das aulas e o fechamento de creches, sem deixar muitas opções para onde deixar filhos enquanto estiver no trabalho. 
Disso resulta a criação de problemas adicionais: sem ter com quem deixar os filhos, algumas mulheres que têm salário mais alto podem contratar pessoas (babás) para cuidar, mas isso significa nova possibilidade de contágio, uma vez que as cuidadoras usam transporte público. Quem não pode custear esse serviço sofre pela impossibilidade de ter essa opção. Enfim, é uma fonte de stress permanente. Não considerar isso revela falha deplorável no Protocolo 7 e, sobretudo, na postura da empresa.

É fato, conforme amplamente divulgado na imprensa, que a ansiedade e o estresse que acompanham a pandemia do coronavírus têm impactado a saúde mental das pessoas em todo o mundo, e os estudos revelam que as mulheres são as que mais sofrem com a sobrecarga psicológica causada pela crise. Carregam a preocupação em não se contaminar e garantir o equilíbrio da situação financeira da família, enquanto trabalham e cuidam dos filhos em casa.

Rever essa medida se mostra necessário e urgente, assim como outras precisam ser adotadas seja para revisar o Protocolo 7 ou para a edição de novo documento com normas mais atualizadas sobre a pandemia e as relações de trabalho. O Sindicato tem reivindicado que a Embasa promova a revisão das normas, num trabalho conjunto com representantes de nossa entidade e da Cipa, e participação direta do serviço de saúde e segurança no trabalho. Além disso, vamos acompanhar o andamento da denúncia feita ao Ministério Público do Trabalho, no sentido de responsabilizar eventuais prejuízos à saúde e a vida dos (das) trabalhadores (as).