Para quem deseja aproveitar o domingo de confinamento em casa e mergulhar na história em torno de conflitos pela água na América Latina, antevendo o que deve acontecer em breve no Brasil que acaba de aprovar a privatização desse bem, a dica é assistir o filme “Bolívia, la Guerra del Água”, do cineasta e documentarista Carlos Pronzato. Embora o título esteja em espanhol, o filme é legendado em português e terá lançamento on line neste domingo pelo canal do diretor no You tube, às 19 horas. Está no https://bit.ly/2YzNGMy.

O filme leva para a tela um episódio mundialmente famoso acontecido em 2000 na cidade de Cochabamba, território majoritariamente habitado por índios que preservam sua cultura milenar. Ali se instalou a multinacional americana Betchel, que acabara de privatizar a água. Com reajustes abusivos de tarifas, a empresa privada impedia a plantação e restringia até o consumo humano, provocando uma grande revolta popular.   

A “Guerra da Água” travada em Cochabamba buscou garantir o uso desse bem essencial à vida de forma solidária, e ao mesmo tempo evidenciou uma contradição central em torno da água no mundo atual: privatização versus bem comum. Desde esse conflito, centenas de cidades em diferentes países do mundo retomaram de empresários os serviços de água e esgoto, tendo como base a prática abusiva de tarifas, queda na qualidade e falta de investimentos. 

O governo Bolsonaro acaba de ter aprovado no Congresso Nacional o Projeto de Lei 4162, que privatiza os serviços de água e esgotamento sanitário no país. Vai levar ao desmonte das companhias públicas que garantem saneamento à população aplicando o princípio da solidariedade, o chamado subsídio cruzado: o que arrecada a mais numa região custeia os serviços onde a arrecadação é deficitária. A privatização acaba com a solidariedade e expõe a voracidade de empresários pelo lucro. A “Guerra de Cochabamba” será revivida aqui. E em breve.

A narrativa dos fatos é dinâmica e se desenvolve em 40 minutos. O diretor Carlos Pronzato é autor de outros documentários que retratam os conflitos políticos e sociais em nosso continente, a exemplo de um mais recente, “A Contra República de Curitiba”, revelando os bastidores da polêmica Operação Lava Jato, e “Piñera, a guerra contra o Chile”, mostrando o levante de chilenos contra seu presidente num país onde a população está sufocada pelos efeitos perversos da privatização, inclusive na água.