Gota D'água

Agrotóxico mata tanto quanto o coronavírus, alerta especialista

22/05/2020

Agrotóxico mata tanto quanto o coronavírus, alerta especialista
Deutsche Welle

No copo de água e no prato nosso de cada dia, e até mesmo no ar, está presente um ou mais de um inimigo tão perigoso quanto o coronavírus, o agrotóxico, e nesse assunto o Brasil tem sido deliberadamente irresponsável, acelerando a liberação de um coquetel de veneno que ameaça a saúde da população.  

Na semana passada, foram mais 22 substâncias autorizadas pelo governo Bolsonaro, totalizando 150 apenas este ano. De acordo com a organização não governamental Repórter Brasil, desde o início da quarentena, em março, foram liberados registros de 96 novos produtos, 62 deles destinados para agricultores e 34 para a indústria. As liberações seguem em ritmo frenético no atual governo, lembrando que no ano passado foram 474 novas substâncias autorizadas.

Segundo a mesma fonte, desde que Bolsonaro assumiu foram liberados 624 agrotóxicos. 
Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, a imunologista Mônica Ferreira, pesquisadora do Instituto Butantã, fez um alerta para a gravidade desse coquetel de veneno na saúde da população. Numa alusão à pandemia do coronavírus, afirmou que “estamos, hoje, diante de um inimigo invisível. Olha o que esse vírus está fazendo com o mundo. Ele é invisível e está adoecendo e matando. O agrotóxico também é invisível. Quando estou comendo uma maçã, não enxergo o agrotóxico nela. Quando tomo água, não enxergo o agrotóxico. Mas ele está presente. E assim como o coronavírus, o agrotóxico também adoece e mata”.

Ainda segundo ela, não existe dose segura para uso de pesticidas, sendo todos extremamente tóxicos ao meio ambiente e à vida, em qualquer concentração, mesmo as mínimas indicadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alertou, ainda, que o uso dessas substâncias deixa a população mais exposta ao coronavírus: “Se passo a vida tomando uma água contaminada por um coquetel de agrotóxicos contaminados, é óbvio que não tenho saúde. Que não estou saudável, que ficarei mais frágil ao coronavírus ou a qualquer outro patógeno. Uma bactéria ou qualquer outro vírus”, complementa.

A gravidade da situação está exposta pelo próprio governo: de acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de intoxicação em decorrência da exposição por agrotóxicos agrícolas mais do que dobrou entre 2007 e 2017, subindo de 2.181 casos para 5.068. Mais de 40 pessoas morreram anualmente pelo mesmo motivo.