Gota D'água

Mulheres do Saneamento: Guerreiras se juntam para enfrentar os desafios

19/03/2019

Desde que a dupla de companheiros Biron/Augusto pegou os instrumentos e deram os primeiros acordes de “Tigresa”, de Caetano Veloso, o auditório do Sindae se apossou da música e cantou, numa só voz, que “as garras da felina me marcaram o coração”. Assim foi, tomado de emoção até o final, o IX Encontro das Mulheres do Saneamento Ambiental, realizado na última sexta (15).

FOTO - CRÉDITO: ACERVO SINDAE

Mulheres guerreiras que souberam convidar os homens para, juntos, enfrentar a besta-fera que anda solta pelo mundo e em especial no Brasil, espalhando ódio no coração, derramando sangue, pregando racismo e homofobia, matando mais e mais mulheres, negros e negras sobretudo da periferia, cortando direitos e conquistas, acabando com a possibilidade de aposentadoria.

O companheiro e coordenador do Sindicato, Danillo Assunção, falou a senha para a luta pela igualdade ao dizer que “precisamos nos reconhecer machistas para que possamos transformar a sociedade”. Disse, ainda, que o machismo mata e que são as mulheres as mais prejudicadas com a reforma da previdência proposta por Bolsonaro.

A partir desse momento, as mulheres assumiram o comando do Encontro, que ficou sob a coordenação da companheira Nadilene Sales. Coube a também companheira Sueli Nélson apresentar o Coletivo de Mulheres do Saneamento, conclamando para a luta mais e mais mulheres da nossa categoria. Esse apelo foi repetido pelas diretoras da CUT Bahia, Lucivaldina Brito (Comunicação) e Maria Cristina Brito (Formação). Lucivaldina, inclusive, disse que as mulheres são maioria na população brasileira, mas ainda não sabem lidar com esse poder.

Ao tratar da reforma previdenciária e suas consequências, a companheira Luciana Mandelli, da executiva do PT e ex-diretora da Fundação Perseu Abramo, afirmou que “a vida das mulheres e de nossos filhos está em risco, num momento em que a barbárie está sendo implantada em nosso país, e a cultura do ódio está sendo amplamente disseminada”. Lembrou que a reforma não ataca apenas benefícios e o direito a aposentadoria, mas a sobrevivência de milhões de famílias que dependem do Programa Bolsa Família e que estão sendo retiradas do cadastro. “Em Salvador, milhares de famílias de mães solteiras que estão perdendo o benefício de R$ 80,00, uma crueldade sem tamanho”.

Disse, ainda, que as mulheres têm sofrido mais desde a reforma trabalhista, pois estão na base da pirâmide, e agora tendo mais sofrimento com a onda do feminicídio tomando conta do Brasil. “O governo está desnacionalizando o Disque 180 para não mostrar a verdadeira face do problema, não deixando registros”.

Outro debate envolveu a violência contra a mulher, com a participação de Carol, do Levante da Juventude, e da capitã Sheila Barbosa, comandante da Base Comunitária da Santa Cruz. Carol disse que a cultura do patriarcado e do racismo serve de instrumento para a exploração das mulheres, e que são estas as que mais sofrem em momentos de crise. No caso de feminicídios, citou as estatísticas apontando que a maioria absoluta das vítimas é de mulheres entre 18 e 59 anos.

Carol afirmou que a desconstrução do patriarcado passa, dentre outras coisas, pela socialização das tarefas entre mulheres e homens e a garantia de maior espaço político para as mulheres.

Atuando numa área temida de Salvador, o Nordeste de Amaralina, e ali comandando a base de Santa Cruz, “região que sofre muito com o estigma da violência propagado pela imprensa”, a capitã Sheila como trabalha para afastar crianças e adolescentes do crime. Ela tem êxito reconhecido na função, dentro e fora da comunidade, e hoje é muito convidada para debates e palestras. O sucesso de sua ação está numa palavra: respeito ao cidadão. Para quem finge não entender, esclarece: morador da Santa Cruz gosta tanto de respeito quanto o morador de outro bairro qualquer.

Também participaram do Encontro das Mulheres a cantora Liz Gonçalves, a contadora de estórias Rosana Paulo e a poeta Milena Rios.

No termino do encontro, a banda Panteras Negras, composta por mulheres, fez um show (live) para os seguidores da página do Sindae no Facebook (@sindaeba).